A síndrome do excesso de Treinamento (Overtraining) pode afetar músculos e também o sistema cardiovascular. 'Tem que ter limite nos treinos e no descanso', alerta cardiologista.

“O exagero é o que chamamos de síndrome do excesso de treinamento,
quando a pessoa treina sem parar para ter resultados melhores, o que na
maioria das vezes não acontece”, alerta o cardiologista e especialista
em medicina do esporte Nabil Ghorayebx.
Foi o que aconteceu com Priscilla Nasrallah, de 31 anos. Em novembro de
2012, ela começou a perceber que seu corpo já não estava mais
respondendo aos treinos e decidiu ir ao médico. “Eu nunca tinha
competido e, do nada, decidi que queria ser triatleta. Treinava duas
vezes por dia, todos os dias, e buscava um resultado rápido. Às vezes,
achava que estava só com preguiça, mas a verdade é que meu corpo não
estava mais aguentando”, lembra.
De acordo com o médico Nabil Ghorayeb, por causa do excesso de
treinamento, começam a ocorrer mudanças no organismo do paciente. “O
corpo passa a produzir hormônios de uma maneira errada. Além disso, o
coração fica acelerado o tempo todo, mesmo em repouso”, afirma. As
consequências começam a aparecer também no dia a dia e o paciente pode
começar a ficar mais irritado, com insônia e até com a imunidade mais
baixa.
“Com a defesa mais baixa, ele começa a ter mais facilidade para pegar
infecções. Outro problema é em relação ao sangue, que pode ficar mais
grosso, o que pode levar a um infarto do miocárdio ou a um derrame
cerebral, por exemplo. Além do risco de arritmia e até parada cardíaca”,
ressalta o médico. Fora isso, o atleta começa a perder rendimento e,
por isso, passa a se cobrar cada vez mais. “É algo inconsciente. Ele faz
um tempo ótimo e acha que está mal”, exemplifica Nabil.
Segundo a psicóloga Leila Cury Tardivo, a vontade de fazer cada vez mais
exercício físico pode ser comparada a uma compulsão. “É uma atitude
repetitiva associada a uma ideia obsessiva de querer ficar forte ou
magro. Então a pessoa “vicia”, o que pode trazer danos também para sua
saúde mental”, explica. Leila esclarece ainda que uma das causas do
excesso de exercício pode ser uma distorção da imagem que a pessoa tem
de si mesma. “A pessoa não se vê com o corpo bonito, então é como se ela
tivesse uma ordem na cabeça dizendo para não parar”, diz a psicóloga.
No caso de Priscilla, essa cobrança e o estresse foram duas grandes
dificuldades. “A orientação médica era para que eu parasse, mas eu não
conseguia. A cabeça influenciava muito e eu ficava me cobrando, pensando
que precisava treinar”, lembra.
Segundo Gustavo Magliocca, médico do esporte que acompanhou o tratamento
de Priscilla, o problema do excesso pode se agravar ainda mais por
causa de maus hábitos alimentares, privação do sono e também erros nas
cargas do exercício.
“Para um organismo não bem controlado, o excesso pode gerar uma fadiga,
que pode ser uma simples dor muscular de 2 horas ou até um quadro que
dura 2 semanas”, explica Gustavo. Por causa da diminuição da imunidade,
Priscilla acabou desenvolvendo uma pielonefrite, infecção no trato
urinário. “Fiquei internada na época”, lembra.
Para reverter o quadro, o tratamento é “parar tudo”,
como explica o cardiologista Nabil Ghorayeb. “Tem que recomeçar quase
do zero. Nesse momento, é importante ter um educador físico qualificado e
também acompanhamento médico”, recomenda.
Priscilla, que está em processo de recuperação desde dezembro de 2012,
conta que já voltou a se exercitar, mas em um ritmo bem menor. “Quando
voltei a correr, não conseguia. Era um desespero porque estava
acostumada a correr 9 km e não conseguia mais correr nem 3 km”, lembra.
Seja na recuperação da síndrome de excesso de treinamento ou na
atividade física do dia a dia, a dica principal é sempre dar um descanso
ao corpo. “Toda pessoa que começa um exercício físico, deve ter uma
meta gradual e progressiva para evitar lesões e outros quadros mais
graves”, alerta o médico do esporte Gustavo Magliocca. Segundo ele,
quanto mais intenso for o treino, maior deve ser o período de descanso e
intervalos.
Para o cardiologista Nabil Ghorayeb, a principal recomendação é sempre
praticar atividade física, qualquer que seja, com orientação e
moderação. “Tem que ter limite nos treinos e também no descanso”,
defende o médico.
Em relação à saúde mental, a psicóloga Leila Cury Tardivo explica que há
um trabalho de recuperação que pode envolver psicoterapia e até
acompanhamento de um psiquiatra. “Tem que entender o que a pessoa está
buscando, qual o tipo de perfeição que ela quer. Às vezes, o tratamento é
feito inclusive com antidepressivos”, diz.
Ainda se recuperando, Priscilla alerta que o mais importante é sempre
prestar atenção aos sinais que o corpo dá. “É fácil ignorar porque a
gente sempre quer se superar, mas o corpo fica debilitado e não pode
deixar a cabeça passar por cima disso”, aconselha. Ela diz que ainda tem
dificuldade de entender que o corpo ainda está em recuperação. “É
complicado. Mas não posso fazer o exercício físico virar uma obrigação.
Se você não for um atleta, tem que ser sempre um prazer”, conclui.
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